ISVARA

ISVARA, como sendo a causa material da criação e causa inteligente do universo.18194830_10213094000009292_5269485227956211256_n

O universo inteiro é visto pelo Vedanta como corpo físico do criador – chamado de Isvara. Os pancamahabhutas (cinco elementos) formam o corpo do criador. Um só corpo (átomos) é o corpo de Isvara, assim isvararupa é a forma universal de Deus. Ele é chamado de Harikesa, cabelos verdes; nilakanthah – pescoço azul; Sahastrapak – mil pés, infinitos; sahastraksah – mil olhos que são todos os olhos; ou quando vemos o céu à noite, as estrelas são os olhos de Isvara.

Ele é contemplado na forma de uma pessoa, para pensarmos que é um ser consciente. Para isso, visualizamos assim para ter disposição adequada. Podemos olhar para o mundo como se de fato ele fosse Isvara, e de fato o é. Nessa contemplação, o meu próprio corpo físico é uma parte de Isvara. Isvara tem esse corpo imenso – virarthi, ou seja, é gordo como Ganesa – é lambodhah: é o universo inteiro, barrigudo, pesado.

Isvara também tem um corpo sutil, que é o corpo sutil total. A capacidade de ver, sentir cheiro, tocar, etc. e abrange os 5 pranas, os 5 órgãos de percepção e os 5 órgãos de ação. A capacidade fisiológica do corpo é sutil e Isvara é este prana total = sutratma: sutra sendo o fio. Ele dá vida a todo ser vivo, ligado a esse fio e dispersamos a energia do prana através do movimento da vida. O prana é a energia que anima tudo. Esse ser sutil total é o corpo sutil de Isvara, que inclui também nossos pensamentos. É todo corpo sutil na forma de tudo o que nos anima e está em um ciclo de vida; que é diferente de nosso corpo sutil (samana, vyana, etc). que está restrito a mim.

Isvara nesta forma é  hinanyagarbha: é o útero dourado, garbha é útero.

Isvara tem também o corpo causal que é mayasakti – o poder primordial da criação, onde estão toda a inteligência, potência e de onde tudo é criado. É ele quem joga as cartas e a mágica. Em mayasakti não há sequencia, nem tempo. Ele contém todos os karmas, tudo o que todos viveram, vive e viverão estão lá. É o criador, aquele que comanda.

Portanto, Isvara tem três corpos, mas se Isvara falasse diria Eu sou este universo todo? Não, ele é distinto do corpo grosso, pois a consciência é distinta do objeto que ela vê. O Eu não é o corpo, que é pesado, nem o corpo sutil, repleto de prana. Quando diz Eu também não está se identificando com o criador capaz de criar tudo.

Assim, consciência de flor é, a flor não é. Se retirarmos as pétalas, onde está a flor? Da mesma forma, a consciência é, o nome e a forma não são nada. São só nomes e formas. No mundo só existe a causa, os efeitos são aparentes. Isvara é a causa de tudo, mas ele é  também livre de tudo. Então quando Isvara diz Eu, ele quer dizer consciência. Simples e pura. O efeito é falso, é mithya, não tem existência própria. Quando digo Eu, é exatamente Isvara, uma identidade perfeita que existe entre os dois, indivíduo e todo, do ponto de vista da realidade. Uma só consciência, refletida em várias mentes. Não há fator de separação entre consciências. Ela é única e é o todo.

Assim, Deus (Isvara) não é um objeto para mim. Tudo existe em mim, e aí está a liberação, chamada de moksa – o ser livre de sofrimento, do nascimento e da morte; do samsara da vida. O que É não deixa de ser, nunca.

Vendo a minha realidade eu posso ser mortal; não morrendo eu posso morrer.

Om tat sat.

Trecho de uma aula do Instituto Visva Vidya, realizada pelo prof. Luciano Giorgio, transcrita por mim.

 

a sombra

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Dizem que nós somos nossa morada. A nossa casa tem uma fachada, clara, visível e atraente, por vezes não. Mas revelam o que queremos que se revele ao outro.

De uma forma intensa e acumulativa, conforme vivemos vamos juntando traumas, histórias e memórias. Algumas memórias se congelam e permanecem, outras derretem-se no calor do tempo, entretanto há aquelas mais difíceis de ir embora sob o sol.

Sempre pairando sobre nossa ‘casa’ vive uma sombra, ela fica por detrás do que podemos perceber sozinhos e onde não há luz nem percepção tátil.

Por vezes, quando estamos com uma chama fraca, ela assombra mais forte, e, inusitadamente, leva a mente ao desespero.

Bem dentro da casa mora uma criança, ela é meiga, bonita e pura, e representa a verdade do mundo. Ela sente medo deste monstro! Medo quando não entende sua forma, quando suas falhas surgem pelo escuro e seus medos gritam e sua cara embranquece.

Certa vez, surgiu um lobo pela floresta ao redor da casa, sua mãe não estava. Esse lobo a fez se iludir e enganou a pobre criança se fingindo de fraco e amoroso, mas por fim, a presenteou com frutas amargas. Quando ele se foi, na solidão, a sombra surgiu com intensidade escancarando toda sua fragilidade. De imediato, houve muita resistência, choro, raiva e sentimentos de injustiça com sua fome.

Por orientações dos seus amigos da floresta e por um impulso e bênçãos, ela resolveu abraçar a sombra com amor e coragem, antes desta se manisfestar, violenta na madrugada da mente. Foi um ato secreto, instintivo, e então neste momento, ela se integrou àquela força que parecia monstruosa e, vislumbrou que a sombra só queria, na realidade, ser reconhecida e acolhida.

A criança, enfrentando-a, sentiu todo o medo e insegurança que sentia há anos; e sentou-se com sua sombra, e descobriu que ela era, na verdade, uma outra criancinha, também indefesa, que nunca se olhou e que tinha sido abandonada, por isso crescia sinistra e fortemente de forma incontrolável.

Tomaram chá na lareira e se descobriram grandes aliadas, cada uma pôde mostrar o que trazia em si. O lado luminoso e o lado obscuro, que era feio, se fundiram em um único ser, momentaneamente. Na verdade, após esse encontro, a criança sempre sabia e sentia quando a sombra ia chegar… Então, calmamente fervia uma água e acendia o fogo, clareando seu ambiente e agradecendo à existência de lobos que rondam e ensinam; e que também, se questionados a fundo, não passam de ovelhas que nos espelham.

Harih om.

Pollyana.

a única busca humana

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O primeiro tema a ser estudado em Vedānta é chamado tecnicamente de puruṣārtha-niścaya, a investigação sobre o que um ser humano (puruṣa) busca na sua vida, de qual é o fim ou objetivo (artha) da sua vida. A escolha deste como primeiro tema não é, obviamente, aleatória, mas tem como razão de ser o fato de que, para buscar a libertação com a prioridade e urgência que ela necessita, uma pessoa tem que entender que é só esse o único objetivo de todas as suas ações, e apenas isso ela quis e buscou quando dizia buscar querer tantas outras coisas.

Por uma mera questão didática é que somos informados, no início do estudo de Vedānta, de que existem quatro puruṣārthas, quatro buscas humanas: dharma – mérito; artha – segurança; kāma– prazer; e mokṣa – libertação, sendo esta última a busca mais nobre, a que mais “valeria a pena” caso eu a desejasse.

Mas já dizem os ditados: “Didática demais é moléstia” e “Quando a didática é demais, o santo desconfia”. Essa maneira de ensinar é usada muitas vezes no início do estudo apenas para não bater muito de frente com a ignorância das pessoas que estão apenas começando a investigação. Em outras palavras, ela, de fato, não faz realmente sentido. Vejamos por quê.

Quando falamos em mokṣa, libertação, estamos falando de libertação com relação a alguma prisão, bandha, alguma amarra que nos prende, em maior ou menor medida, com mais ou menos força, a algo específico do qual gostaríamos de nos livrar.

Quando dizemos que existe uma busca por segurança, artha-puruṣārtha, parece que buscamos realmente por riqueza, basicamente, na forma daquilo que proporciona os recursos materiais necessários para nossa sustentação e a sustentação dos nossos. Ou, se a pessoa for mais “esperta”, artha-puruṣārtha torna-se uma busca mais explícita por poder, já que ser poderoso significa dispor à vontade dos recursos dos outros, sem ter que se incomodar em levar a bolsa ou o cartão do banco quando sair de casa.

Contudo, se analisarmos rapidamente o que queremos quando queremos ser, em diferentes graus, ricos ou poderosos – protegidos de todo e qualquer contratempo com um bom emprego (público, de preferência), uma boa conta bancária, um bom plano de saúde, uma boa casa, bons amigos, etc. – veremos com toda a clareza que o que queremos não é o objeto dinheiro, ou as coisas que ele compra, ou as pessoas amigas ou subordinadas a mim; o que queremos de fato é estarmos livres da insegurança, o que, por sua vez, implica diretamente que queremos estar livres da noção de que “Eu sou inseguro”, pois a noção de insegurança só é uma prisão da qual quero me livrar quando eu mesmo estou metido bem no meio dela.

Acontece que, curiosamente, quando busco por segurança, indo trabalhar todo o santo dia e cercando-me de tudo aquilo que, imagino com alguma lógica, me garantirá mais um dia de confortável ou ao menos tolerável existência (nota para matutar depois: quem foi que me provou que sair no meio dessas grandes cidades brasileiras para trabalhar me garantirá estatisticamente uma maior possibilidade de existir por mais 24 horas do que simplesmente ficar em casa, na minha segura cama, que não é um beliche?!) não estamos reconhecendo e reforçando – de forma tanto mais implícita ou inconsciente quanto mais psicologicamente profunda, taxativa e inquestionável – que eu sou mesmo, solto por mim, um nada, a própria insegurança encarnada na forma de uma insignificante poeira no meio de um universo infinito que, no fim das contas, está me mastigando vivo a cada vez que como uma banana? (o leitor já sabe que, depois de certa idade, a vida é como na velha Rússia Soviética: não é você que come a comida, mas a comida que come você!).

Querem maior contradição? Buscar por artha, segurança, não significa admitir de antemão aquilo mesmo que você pretendia negar por meio da própria busca? Porque a busca por uma gorda conta bancária deveria servir para me deixar seguro; para, enfim, dizendo mais claramente, livrar-me da insegurança que eu sinto em mim; para, dizendo ainda mais precisamente, livrar-me da conclusão de que eu sou esse ser essencialmente inseguro e insignificante. Mas a conta bancária, a própria busca por ela, a própria necessidade atávica que sinto dela serve justamente ao propósito oposto: ela confirma a minha noção de insegurança da qual eu quero por meio dela me livrar. E a busca por um aumento da conta apenas aumentará a conclusão inicial de insegurança, assim como a maior quantidade de muletas e acessórios compensatórios apenas confirmam mais e mais a limitação de um pobre aleijado. Entendam: isto não se chama busca: chama-se embuste.

Neste sentido, a busca por segurança, artha, como uma meta da vida humana (dentro dos seus limites de manutenção cotidiana, e não como meta ou fim da vida, a busca por segurança é uma necessidade natural e indispensável, acho que posso assumir que entendemos isso sem maiores explicações) é inútil, anartha. Mais do que inútil, é contraproducente: produz o contrário daquilo que visa produzir, na medida em que confirma e legitima para o ser humano a sua conclusão natural de limitação.

Verdadeiramente, ao buscar por segurança na forma dos vários meios que a sociedade apresenta, o que o homem busca é ser livre do status de ser inseguro. Ele quer, portanto, mokṣa, libertação da noção de insegurança que o aprisiona e aflige. Desde quando, então, existem dois puruṣārthas, artha e mokṣa? Existe apenas conhecimento e confusão.

Assim como artha, o ser humano também busca por kāma, prazer, conforto, felicidade. Uma vez que os meios básicos de segurança estejam mais ou menos garantidos por um período de tempo em que possa relaxar, o ser humano, assim como outros animais, busca pelo prazer, por um momento onde possa relaxar das exigências da sobrevivência e se divertir. Kāma, a felicidade na forma de situações confortáveis e prazerosas torna-se uma busca, um puruṣārtha. Pois o ser humano não quer apenas existir sempre, não quer apenas ser por mais um dia. Ele quer ser e, sendo, ser feliz.

Contudo, não existe algo que seja felicidade no mundo. O mesmo pôr-do-sol, para duas pessoas diferentes, pode ser respectivamente uma grande felicidade e uma grande tristeza. A mesma pessoa que se alegra com o pôr-do-sol hoje, pode se entristecer com o mesmo fenômeno amanhã. De modo que, rigorosamente, o que uma pessoa quer encontrar ao buscar pela felicidade não é um objeto específico, mas o “eu feliz”, qualquer que seja a desculpa para que ele apareça.

Se a praia desperta em alguém, por algum meio, claro ou obscuro, o “eu feliz”, então a pessoa terá a praia como felicidade, ao menos até que se enjoe dela, o que cedo ou tarde acontecerá. A este respeito, recomendo um documentário pitorescamente intitulado “Neuronha”, que pode ser visto pelo menos em parte no Youtube, sobre pessoas que se encantaram com Fernando de Noronha e tiveram a (talvez não tão) brilhante ideia de se mudar para lá.

Não é difícil descobrir, analisando com a ajuda de Vedānta a experiência que todos temos de vez em quando deste “eu feliz”, que ele não é a soma do “eu” mais um objeto chamado “felicidade”. Se é que podemos falar em qualquer aritmética da felicidade, ela será uma aritmética de subtração, e não de soma. Eu sempre me encontro feliz comigo mesmo quando as conclusões de limitação, dor, mágoa e infelicidade não estão manifestas na mente. Exemplo máximo: sono profundo. No sono sem sonhos não há nada, isto é, a dualidade eu e mundo não está presente. Há apenas a minha presença, acompanhada universalmente pela experiência de felicidade, que reconhecemos ao acordar e inferimos da extrema boa vontade com que todos os seres se entregam ao apagão do sono, sem terem sequer a garantia de que se acenderão novamente no dia seguinte.

Poderíamos pensar que esta hipótese da subtração não vale para as situações em que ficamos felizes ao somarmos objetos e conquistas no mundo. Ela, no entanto, continua valendo, na medida em que o contato com o objeto de desejo só produz felicidade se conseguir, pelo impacto da sua presença, nocautear por algum tempo as conclusões de limitação que o sujeito faz sobre si mesmo. Se isso não ocorrer, a mesma piada engraçada que, somada a você, o faria gargalhar como um desarranjado mental, não lhe arrancará o mínimo sorriso, caso esteja você no mesmo instante preocupado com a mulher que o traiu, com a dívida do banco ou com seu filho gravemente doente.

Assim, na esteira da mesma lógica com que abordamos artha-puruṣārtha, podemos ver passar com clareza o fato de que ninguém busca realmente kāmas, objetos de prazer, mas apenas o status de estar livre da infelicidade, o que implica estar livre da conclusão de que eu sou essencialmente, por mim mesmo, infeliz. Todos, em nome da busca por kāma, queremos realmente mokṣa, a libertação da noção de infelicidade centrada no “eu”.

Como, porém, tudo se trata de um grande embuste, quanto mais uma pessoa busca por alcançar e manter objetos e meios para prazeres físicos, intelectuais, emocionais e tantas outras coisas para se sentir feliz e satisfeita, tanto mais ela carimba para si mesma a sua reiterada anuência de ser basicamente, por si mesma, infeliz e insatisfeita, de modo que nunca há um fim na busca por kāma, pois esta infeliz conclusão não só permanece intacta em qualquer experiência de prazer, mas é reforçada por ela, pela sua necessidade dela. Realmente não há nada de tão eficiente e produtivo como a contraproducência da ignorância. Kāma não é, portanto, uma meta, um fim (artha) da vida humana (puruṣa).

Por fim, chegamos ao chamado terceiro puruṣārtha: dharma, a busca por ser adequado em termos éticos e morais e também por acumular mérito no campo religioso ou espiritual. Em ambos os casos, trata-se de uma preocupação exclusivamente humana, não compartilhada com os animais, que agem apenas por instinto ou programação. Sendo programada para pastar, a vaca não ganha mérito em ser vegetariana e nem o leão leva demérito por comer carne de vaca.

Um ser-humano, entretanto, pode escolher o que comer levando em conta não só seu gosto pessoal ou sua tradição familiar. Ele pode decidir livremente levar o sofrimento dos animais em consideração e tornar-se vegetariano. Como isso, segundo os Vedas, ele ganha mérito, puṇya, um resultado invisível que será a causa de situações cômodas e prazerosas aparentemente fortuitas no futuro. Além desse resultado invisível, o ser-humano fica em relativa paz consigo mesmo quando age de acordo com o dharma, com o seu dever. Quando, ao contrário, ele pega atalhos morais para buscar por segurança ou prazer, a tendência é que ele fique culpado, internamente dividido, o que lhe impede qualquer relaxamento verdadeiro e, portanto, qualquer apreciação verdadeira do mundo.

Quer busque por uma mente em relativa paz no momento presente, quer busque por mérito para situações agradáveis futuras, a busca por dharma revela a busca humana por ser livre da noção de ser inadequado, errado, amaldiçoado. Não há busca por tornar-se adequado e nem busca por tornar-se merecedor se não houver, em primeiro lugar, a conclusão de que eu sou inadequado e não merecedor. O que uma pessoa busca não é o dharma, mas a libertação, moksha, da noção de inadequação e não-merecimento centrada no “eu”.

É claro que, como nas outras buscas, a busca pelo dharma através de uma vida de orações e ajuda ao próximo – uma vida que diríamos “santa” – não trará para a pessoa a total e completa libertação da noção de inadequação. Ao contrário, quanto mais santa for, mais terá consciência da limitação da sua capacidade de realmente ajudar o mundo, e silenciosamente confirmará aquilo mesmo que pretendia a princípio eliminar: a conclusão de que “Eu sou mesmo inadequado e não merecedor, afinal de contas”. O que se busca não é o dharma, mas o “eu feliz” que é obtido quando a mente não se julga inadequada e não merecedora. A ausência desses julgamentos não será alcançada se fizermos mais dharma, mais ações adequadas. Pelo contrário, a necessidade de ajudar mais é apenas o consentimento silencioso com a conclusão básica de inadequação, da qual eu quero me ver livre, total e completamente livre.

Se o dharma-puruṣārtha é também, como as outras buscas, apenas uma forma de o ser humano buscar ser livre das limitações que o acompanham, então todas as buscas são apenas por libertação, mokṣa. Não há nem nunca houve quatro buscas. Só existe uma, que definitivamente não é por dinheiro, poder, prazeres ou mérito. A única coisa que um ser humano busca é ver-se livre de ter que buscar, de ser um buscador constante. Em outras palavras, a sua única busca é pelo “eu” tão completamente adequado, pleno e livre quanto seja possível ser.

Se esse “eu” pleno é possível, então ele já existe, pois algo livre de limitação não pode ser produzido. Se já existe e não pode estar distante de você nem por um segundo e nem por um centímetro, pois é pleno, então você o ignora. Se você o ignora, você precisa de um meio para eliminar essa ignorância. Esse meio de conhecimento para o eu pleno chama-se Vedānta.

Se não me conhecia, muito prazer, acomode-se num canto em silêncio. Seja bem-vindo”.

Este texto foi escrito pela equipe do Vedantaonline.

Morte que te quero viva

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Qual a importância da Morte para o Desenvolvimento Humano?

O ano está acabando… e assim como tudo começa, temos a ilusão de que termina.

Faz-se necessário integrar esta ideia de fim cotidianamente, que faz parte de um desenvolvimento saudável do ser humano. Freud já em sua época relacionava a morte à ansiedade de castração. Este medo do inevitável, da certeza do fim pertence a todos; porém temos mecanismos de defesa que nos garante conforto e habilidade para poder viver sem precisar pensar neste assunto durante toda a vida, como a negação e o humor.

O medo da morte precisa ser integrado à consciência humana e garante maturidade, se não há, pode causar transtorn Continuar lendo “Morte que te quero viva”

O amor e o vazio

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vai que eu sou você.. art: Jarek Puczel

O amor talvez seja a maior força do universo, a conexão que os artistas sentem e expressam e o poetas de todo o tempo pintam e no qual se inspiram, sem falar nos compositores.

O amor permeia tudo e está por trás de cada ato de um ser. Ao acordar uma pessoa só levanta da cama por amor – seja a ela mesma, ao seu trabalho, à comunidade , à família, à vida. Ele é quem nos move sendo a base da nossa mente e coração. As pessoas são capazes de ter atitudes desafiantes e fazer até loucuras por ele.

Pensamos que o contrário do amor é o vazio. Mas vamos pensar melhor…

Se vemos algo negativo em alguém e pensamos – ah, essa pessoa não tem amor no coração; o que tem em seu lugar? Seria espaço..? Acho que não. Se a falta de amor instiga o ódio, a raiva, o medo, os julgamentos, a inveja ou o ciúme; de onde então vêm todos estes sentimentos que nos consomem? Aonde são criados?

Estas impressões dos sentimentos chamados de negativos por nós e as emoções que são desdobradas deles são na verdade saudáveis. Sua interpretação exagerada, com certa camada de ilusão, só vêm por uma incompreensão da ordem do mundo e da falta de apreciarmos que a sua origem é o amor, ao descolarmos esta emoção superficial vemos que é necessário até uma certa dose de amor para a tristeza florir. Toda emoção tem esse amor fundamental. Portanto, eles certamente vêm do amor também.

Assim se alguém está com raiva, significa que é por alguém que ela ama e que, no meio do caminho, por motivos quaisquer de ignorância, inocência ou incapacidade, ao não saber lidar com si mesmo nesta situação, ela se identifica a esta energia da raiva, se irrite e sofra. É um movimento natural, porém sua permanência e intensificação não o são. Por trás de tudo está o amor camuflado que é perene enquanto a raiva é uma emoção passageira e não é definitivamente você, só uma sensação da mente e do corpo provocados.

Há também quem diga que sua religião é o amor ou que Deus é amor – como diz o mantra Baba nam kevalam. O amor pode ser de vários tipos – afetivo em uma relação amorosa como um sentimento a alguém; incondicional aos filhos, animais, ao universo, ou seja ao outro como uma atitude que expressamos; ou o amor à Deus que traz a liberdade para amar.

Já o vazio é uma ilusão. Em se tratando das dualidades, o contrário do amor ou da plenitude não é o vazio. Há um mantra que nos diz: retirando a plenitude da plenitude, só plenitude resta.

O criador do universo, que chamamos de Deus na tradição védica damos vários nomes como Iśvara enquanto aquele que se manifesta; Viśṇo, enquanto aquele que está em todo lugar e tempo; Śiva enquanto aquele que produz o que é bom; Ganeśa enquanto aquele que remove os obstáculos por Ele mesmo colocado; Brahma como sendo o maior. Se dissermos que Deus (a divindade em que está pensando agora) é ilimitado e está em tudo e em todos, não há um lugar em que Ele não se encontre, um lugar reservado como um buraco negro livre de sua influência; portanto o vazio também pertence a Deus que é a própria felicidade, plenitude e amor. O vazio é neste caso cheio e se o amor está no espaço-tempo do universo, o vazio também é pleno de amor.

Quando algum relacionamento se acaba e pensamos que estamos sem um pingo de amor e jogados em um vazio já que tudo fugiu do nosso controle e nos vemos limitados, podemos pensar que nada brotará dali. Se estivermos em luto por alguém levados por Deus injustamente, lembremos que há o amor por trás; seja como uma manifestação, seja como a ordem e o próprio amor de Deus por nós só respondendo às nossas ações; pois ele é a matriz e a própria causa do mundo.

Se Deus está dentro de mim, e eu e o criador não somos separados e somos um, Deus sendo amor, e sendo o próximo (como diria o mestre Jesus) eu serei o amor também e não poderei encontrar o nada, o vazio; somente a plenitude, a felicidade, a devoção e a compaixão que é ānanda.

Esta felicidade pode relaxar nossa personalidade e se depositar na mente do coração – hṛdsthale manaḥ – de quem vive a vida como uma dança com amor e liberdade.

Portanto, a felicidade não pertence à mente, aquela que pensa, que julga e está aliada ao ego; ela está além da mente não sendo uma emoção, e sim nossa própria natureza de amor. Essa natureza não exige uma troca ou um sacrifício, ela se faz em toda relação que temos com o mundo ao rompermos a visão e divisão de que eu sou diferente de você. Oṃ

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uma simples purificação caseira

7808097cf86ae8b795e16eecbedb14b1Já realizei algumas purificações do corpo que se refletiram de forma magnífica na minha mente. É uma prática muito saudável e tida como rotina anual, com pessoas que a realizam até duas vezes ao ano e outras que seguem prescrições de terapeutas e médicos de ayurveda a cada outono como prevenção ou por algum desequilíbrio ou doença específica. De qualquer forma, o objetivo deste texto é introduzir uma breve noção e possíveis benefícios que podem fazer imediatamente para sua saúde.

Nos versos iniciais que cantamos para abrir os estudos dos Yogasūtras, há um trecho que diz: yogena cittasya padena vācāṁ malaṁ śarīrasya ca vaidyakena… Aqui é colocada pelos mestres a intenção de se eliminar as impurezas da mente através do yoga, as impurezas da fala pelo canto e mantras e as impurezas do corpo através da medicina do ayurveda. Quando descobrimos através da experiência vivida e praticada o quão benéfico pode ser fazermos uma desintoxicação no organismo, ela se torna um presente e um conhecimento a se prezar e espalhar, como uma grande ferramenta que podemos usar para viver mais e melhor. Desta forma, o panchakarma (pancha: cinco; karma: ações) se revela uma sábia prescrição feita pelos acharyas (professores) e médicos (vaidyas) da medicina tradicional indiana desde sempre presente na humanidade.

Como uma medida para se purificar e limpar o organismo das toxinas físicas e mentais (ama) a primeira medida presente nas preparações dos pancakarmas, mais precisamente presente no chamado poorvakarma, consiste em adquirirmos uma dieta mais leve e seca que garanta que nosso corpo deixe de produzir toxinas, consideradas alimentos não digeridos pelo organismo e que bloqueiam os canais de ar e alimento, basicamente. Elas se acumulam no corpo e também na mente seja por serem incompatíveis com seu biotipo (dośa) ou por outros motivos como uma má digestão intrínseca (agni) e ineficiente ou hábitos não saudáveis relacionados ao horários, quantidade, tipo e qualidade. No âmbito mental, as toxinas se tornam mentais e interferem nas nossa saúde emocional, podendo causar maior tensão.

De um jeito simples, escolha um período de 7 a 10 dias para sentir seu corpo livre de alguns alimentos que podem não ser tão bons para você. Esta dieta é para ser feita somente por um determinado período. O ideal é consumir alimentos sátvicos que são os frescos, integrais, orgânicos e cheios de prāṇā (energia vital, não presente por exemplo em alimentos congelados, industrializados, requentados…). Tente você mesmo cozinhá-los e preparar as refeições com tempo, só é preciso um pouco de organização e disciplina. Vamos lá?

Esta dieta chamada de antiama, ou antitoxina, é completa e possui as proteínas, vitaminas, carboidratos e os nutrientes necessários, mesmo se não estiver acostumado a não comer carne. Ela pacifica todos os dośas. O ideal é utilizar os legumes e verduras orgânicos, as frutas não são indicadas. Ela restringe qualquer espécie de alimento de origem animal, somente o mel é permitido, ou seja ovos, carne e leite não são indicados; verduras e legumes ácidos demais e fermentativos (como batata, tomate, berinjela, rabanete, espinafre, couve-flor, repolho e pimentões) não serão utilizados; estimulantes como álcool, café, chá preto e cigarro também não; não utilize cebola, nem alho; nenhum laticínio, nem alimentos processados, como o açúcar ou nada nada cru, como as saladas. Os feijões permitidos são o mung (moyashi), azuki e lentilhas.

Lembre-se esta dieta é por tempo limitado; ela promove uma maior leveza do organismo e diminui o excesso de kapha (peso, lassidão, preguiça) que pode se agravar no inverno; assim como promove clareza mental, disposição e entusiasmo ao removermos um peso que carregamos inutilmente. Ama (toxina) é uma substância pegajosa, fria, úmida e grosseira que existe realmente no organismo que age agravando os dośas e causando possíveis doenças. Se manifesta através do cansaço, entorpecimento mental, excesso de peso, dores diversas, falta de energia etc.

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Café da manhã: ideal até 9h30.

Um chá de gengibre c/uma erva digestiva (ferver água com gengibre ralado por uns 10 min., apagar o fogo e colocar a erva digestiva, tampar e esperar uns 5 min.) e 1 ou 2 fatias de pão integral torrado com mel. Ervas digestivas: erva-doce, hortelã, erva-cidreira, camomila, manjericão entre outras.

Almoço: entre 12 -14 hs.

Kitchari, você já deve ter ouvido falar; é um arroz bem cozido (integral ou branco, se a digestão estiver muito lenta, privilegie o branco) com uma leguminosa – feijão verde (moyashi ou mung dhal), feijão azuki, lentilhas verdes; e verduras e legumes cozidos e refogados no azeite de oliva, temperados com massala. Refeição completa e integral que te satisfaz. Não tem quantidade restrita, somente sua fome a ser saciada.

A Masala é uma mistura de especiarias tais como: cominho, coentro (pode ser fresco), gengibre em pó, açafrão da terra (cúrcuma), uma pitada de pimenta do reino, noz-moscada, etc.

Vegetais: podem todos, exceto os já citados anteriormente. Sugestões: bardana, inhame, cará, agrião, rúcula, acelga, escarola, beterraba, mandioquinha, catalonha, almeirão, quiabo, cenoura, vagem, abobrinha, cabotia…

Lanche: entre 16 -17 hs.

Um chá digestivo com pão integral torrado com mel.

Jantar: ideal jantar até às 20 hs

Sopa de legumes, um caldo ou um creme. Sugestão: mandioquinha com vagem e cenoura; inhame com agrião; cabotia com gengibre; cará com abobrinhas.

Pode-se usar sal marinho (não o comum) mas não exagerar na quantidade. Ghee é super bem-vindo para refogar os legumes, mas não exagere também.

Seja seu próprio curador. Faça essa simples purificação alimentar em sua casa, preferencialmente entre a junção de duas estações. Tome a responsabilidade pela sua própria saúde, você poderá experimentar uma grande mudança nos pensamentos e nos seus sentimentos, e se apaixonar pela sua vida e pelo que é.

<3 boas escolhas, bon apetit, bons pensamentos.

Oṁ namo śri bhagavate Dhanvantarie namaḥ.

 Gostou de ficar sem carne? quer entender melhor o vegetarianismo sem julgamentos?

poesia

b93c8e76b0461ca30a06cd1805871b75 Eu como um cavalo cego

Em um trote em disparada

Estou só e preso na ilusão

De só ser o couro e a sede.

Mas se acaso eu abro os olhos

Da mente e do coração

A felicidade é

A luz da minha visão.

Polly.

art: Elena Shved

A poesia dança nos versos sem precisar se explicar . . . veja mais essa incrível do professor Hermógenes. om.

conexão

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O que ajuda a nos qualificar para aprender um conhecimento novo com um professor sobre determinado tema? Pensando nisto, fui desafiada a procurar dentro de minha personalidade as qualidades e defeitos em se entregar a um novo estudo para poder possuir este conhecimento.

Algo que sempre fui é curiosa. Desde pequena perguntava tudo aos meus pais sobre as coisas e este é um traço característico que me levou desde cedo a não me fechar em pacotes prontos de ideias e conceitos, a me abrir para ouvir assuntos diversos e permitir o crescimento. Esta é uma qualidade que serve como uma fagulha para aprender.

O que me levou a me interessar por vedanta, conhecimento da tradição védica, foi uma profunda conexão com o professor. Quando vi a chamada para um curso e o acompanhei, logo após as primeiras aulas quis entrar em um curso regular. Essa confiança que surgiu e me conectou, assim como o sentido que o conteúdo fazia, me acendeu e pude ter fé nas palavras dele e nos estudos dos textos. É como se algo em mim movida pela turma, já me apontasse o caminho e, por mais longo ou difícil que ele possa parecer, não importará, porque sei que é por ele que devo seguir e o tempo não importa. Esta qualidade que julgo ter se chama shraddha. E agradeço a Deus por ter sentido tal coisa e também por poder abri-la para todas as áreas da minha vida – na oração, no relacionamento familiar, nos exercícios de yoga, na vida profissional etc. Por exemplo, em alguns momentos em que me sinto angustiada por variados motivos, essa fé chega e acalma o meu ser, pois entendo a mutabilidade das minhas emoções do meu corpo e sei que não sou essencialmente eles, de fato.

Sinto que para entender o que o tema traz, de tamanha lógica e mesmo assim tão abstrato, é preciso algum grau de inteligência, memória e raciocínio, pois é preciso estar atento para as ideias não fugirem, se embaralharam toda e se confundirem na mente. Após um tempo, após ouvir uma aula ou assimilar algum texto, é preciso lembrar-se dele, visualizar o objetivo central e contemplar o que foi aprendido, e esta qualidade acredito possuir em um certo grau para poder adquirir o conhecimento. O nome dela é smrti. Desta forma, quando me vejo só, em algum lugar bonito e somente me ponho a contemplar, tento rever o conteúdo que sei, que apreendi, e refaço mentalmente o caminho. Quando consigo uma paz e felicidade mesmo que temporária, me sinto esplêndida e conectada.

Algo que preciso desenvolver é a força de vontade e a coragem para aplicar e viver tais ensinamentos em minha vida, sem condenações. Algumas vezes encontro dificuldades e me vejo preguiçosa e por mais que me esforce, adio atividades fortemente recompensadoras, procrastinando-as. Gosto de fazer asanas, mas não os faço com tanta regularidade; medito, porém não todos os dias, até mesmo as disciplinas do Ayurveda que são tão vitais, não andam mais muito presentes em minha rotina, nem me lembro quando foi o último panchakarma – desintoxicação. Me lembro de quando o fiz, e me sentia leve e radiante. Hoje com a correria de vida e escolhas pequenas, vejo como a habituação domina. Comodismo e piloto automático no que aparenta ser mais fácil e rápido, ou com menos esforço? Talvez, mas sei que o fato de poder escrever sobre isso me traz uma vontade que motiva a mudar tais comportamentos, sendo mais disciplinada, praticando diariamente yoga em todas as suas nuances e me qualificando para poder estar cada vez mais apta a me conhecer de verdade. Já me organizei e quero ser mais coerente com o que penso e ajo, e você?

Nessa conversa comigo mesma, amanhã inicio um poorvakarma, que antecede uma desintoxicação/purificação ayurvédica, e nos próximos posts explico os benefícios que se tratam essa limpeza física e mental do organismo. Também me foi ensinado pelo professor uma disciplina eficiente para melhorar a confiança em nós mesmos – acordar as 6 da manhã por 12 meses e fazer 12 surya namaskar para desenvolver maior virya – maior autoconfiança/força/coragem/potência. Vamos juntos praticar?

Om.

art: Nieve Waleska

Para entender a tradição Parampara de discípulo e mestre veja este artigo.

desejo que você tenha

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Quando pensamos nos desejos que um homem possui, o mundo inteiro se torna uma vitrine na mente, com visões do que possa lhe trazer prazer.

Quando se alcança um desejo, o mundo está perfeito e você pode relaxar e ser feliz…até surgir o próximo; o que não demora muito. Às vezes, o que eu desejo agora no momento, posso não desejar mais amanhã. Ou o que eu desejo não é desejado por outra pessoa ao meu lado, assim meu desejo muda de acordo com a minha mente e contexto.

Assim, há desejos para toda espécie de tamanho e valor. Eles são infinitos e mutáveis, acontece que nem no mundo físico nem no mundo social, pode um homem conseguir uma satisfação verdadeira de tudo o que seu ser busca, já dizia aquele velho rockeiro inglês.

O yoga e outras tradições ao ensinar que se deve eliminar os desejos para ser uma pessoa feliz e espirituosa, tem sua interpretação erroneamente alcançada. O que a tradição védica (ver Vedas) explica é que todos os desejos do homem moderno são saudáveis; até mesmo os animais desejam e são movidos por instinto a procurarem alimento, carinho e proteção. É um movimento natural.

Neste contexto, os desejos – chamados de kāma  constitui um dos 4 Puruṣārthas  juntamente com artha, dharma e mokṣa – os objetivos que o seu humano busca na vida. O desejo é produzido pela nossa mente frente a um mundo de necessidades e vontades. Ele, juntamente com a necessidade de se sentir seguro (artha), está envolvido com o prazer e a segurança. O entendimento de sua utilidade e objetivo vem ao realizarmos ações que não queiram só atingir estes desejos.

As escrituras (Upanishads) ensinam – īśvarārpita necchayā ktam – fazer ações sem desejo. Isso não significa que você não deva ter desejos, o que é impossível, pois você deseja um prato de almoço quando tem fome. Portanto, a coisa da qual queremos ser livres precisa existir, ou seja, o desejo deve estar presente para que eu possa ser livre dele. Após este reconhecimento de que ele é real, há sua análise e a retirada de sua fantasia.

As coisas do mundo aparente que podemos tocar, ver, sentir, escutar e que são mutáveis são chamadas de mithya. Dessa maneira, o desejo possui uma forma e traz camuflada uma ideia. Por exemplo, por que uma pessoa deseja um elogio? É um desejo dela por reconhecimento, ou alguma insegurança de sua personalidade, ou quando criança, talvez, ela não tenha recebido muita atenção de seus pais..? Assim descobrimos que por trás de todo desejo se esconde algo real, livre da fantasia. Após quebrar essa casca de pensamentos e emoções, podemos nos perguntar de onde vem o desejo e qual a raiz deste sentimento.

Ao se desconstruir o peso do desejo e o seu julgamento, não queremos eliminá-lo à força; e ao analisá-lo melhor, percebemos que a maioria dos desejos cai somente em um – a nossa necessidade por amor, por amar.

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“O que você fará quando se libertar de todos os desejos, menos do desejo de ser livre do desejo?”

Isso traz um conforto imenso e uma relatividade melhor na vida para lidar com os desejos, que são momentâneos, não-absolutos e mithya e portanto impossíveis de nos trazerem a felicidade plena, pois é parte de uma ação (karma) realizada por nós, sendo limitada no tempo-espaço. Algo limitado não pode nos trazer a felicidade ilimitada. Só o que é pleno é capaz de nos trazer uma felicidade plena. Como algo limitado me fará ilimitado? Enquanto permanentes e limitados, nunca nos veremos livres dos desejos, que se tornam uma ferramenta que nos ajuda a viver com maior equilíbrio.

Vejo que são somente objetos do mundo e da mente, me certifico de sua real dimensão e me relaciono melhor com eles sem esperar seus frutos.

Para mais textos com este tema sobre Vedanta, acesse Prazer e sofrimento.

 harih om :)

Como a espiritualidade se relaciona com o dinheiro?

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Quanto vale a paz para você? Nunca poderíamos pagá-la mas mesmo assim a valorizamos imensamente. A concepção de poder pagar por ela é uma ilusão. Quanto você pagaria pelo preço de conhecer o seu real propósito na vida ou de poder acessar através de um professor ou um mestre um conhecimento fundamental acerca de si mesmo? Não devemos ser hipócritas, o dinheiro não é um ‘mal’ necessário, dinheiro é simplesmente necessário e todos precisamos ganhá-lo, bem ou mal para viver. A moeda é um meio de troca que socialmente possuímos como na época dos escambos, só pra ser bem recente e em que na tradição védica se compara à seva (um trabalho realizado como troca, agradecimento ou oferecimento a um conhecimento recebido). Portanto no mundo da espiritualidade também não funciona diferente. Por que temos a ideia de que uma aula de yoga precisa ser muito acessível, e ao mesmo tempo um jantar em um lugar caro vale o dobro de seu valor e não é questionado? Temos em nossa cultura um tabu quase que religioso ou diabólico ao relacionar  o dinheiro e a espiritualidade, e tendemos a colocar o peso das injustiças do mundo neste pequeno papel, como se ele fosse a causa das desigualdades que existem.

Sabemos que no sistema capitalista em que vivemos, todo trabalho é consequência de um esforço que foi feito por um indivíduo e devido ao seu tempo e habilidades, ganhou-se seu respectivo valor. Se a sociedade nos proporcionasse tudo o que precisássemos de graça, não teria sentido em cobrar por aulas de autoconhecimento ou meditação visto que as necessidades de todos estariam garantidas, mas sabemos que não funciona assim. Isso pode causar nas pessoas uma mentalidade em que se valorize muito aquilo que se possui materialmente e acabe dando maior importância às pessoas que possuem tais condições e bens em detrimento do ser. Entretanto, hoje em dia, aqueles que buscam se autoconhecer e querem cultivar uma vida mais saudável, como por exemplo com o Yoga e outras práticas, também valorizam o dinheiro, é claro! Somente a partir dele é possível frequentar aulas, estudar com um professor, visitar templos, fazer peregrinações e viagens, comprar livros etc. Se trata de uma relação em si, e portanto, é mister também que tenhamos uma boa relação com ele e que o demos o devido valor com pensamentos coerentes, como em toda e qualquer área de nossa vida. Só desta forma ele pode fluir de acordo com nosso suor e Dharma.

Me lembro quando estive em Rishkesh e assim que pisei em um dos templos à beira do rio, não entendia muito sobre os rituais daqueles homens.  Após um deles me oferecer a puja (o pujari), abençoar, entoar alguns mantras e passar cinzas na minha testa, me senti plena e pura, até ele pedir uma contribuição pelo seu ato, o qual interpretei como um abuso por ele não ter perguntado antes se eu concordaria, e até o considerei um indiano malandro! Pensei que seu ato era somente para me receber e que havia sido uma estrangeira ingênua em acreditar que ele o estava fazendo gratuitamente. Dei algumas rúpias, mas me senti um pouco invadida, não pelo valor que era irrisório, mas pela sensação que é comum na Índia por assim dizer em várias ocasiões, de invasão. Algo parecido se repetiu em Pushkar, em um lago sagrado, mas dessa vez as orações e oferecimentos foram oferecidas a serem compradas por um boleto com um valor grande que valia para vários dias de rituais. Engraçado, pensei, será que não se podia participar ou rezar livre e gratuitamente neste local ou assistir à uma cerimônia específica? Não pelo que pareceu, em algumas circunstâncias tinha uma contribuição se você estivesse em um recinto privado, o valor do conhecimento e prática do pujari, o gasto com a compra das flores, cuidado com a limpeza, canto dos devotos, a própria atmosfera que criavam, como dizem ‘tudo tem seu preço’ e o mais importante – é dada uma retribuição genuína a Deus de acordo com a tradição.

Por fim, há um valor para cada trabalho, seja daquela que vê o futuro nas cartas de um tarô,  daquele que constrói uma casa ou daqueles que salvam vidas como um médico ou bombeiro, e daqueles que rezam uma missa ou puja, dão aulas de Yoga ou Vedanta e proporcionam conhecimento e capacidade de devoção às pessoas. Respeitar este tópico não se trata de exploração, é um meio de vida. Porém atente quando é exploratório e alguém lhe diz para doar tudo que construiu a vida toda a um ashram de um novo guru que o libertará. 

O que fazemos com o dinheiro para realizar as devidas ações é o que realmente importa mas a verdade é que é um recurso indispensável e fundamental principalmente no universo da espiritualidade. Não podemos ajudar se não possuímos meios para tal.

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Que saibamos rezar para que Lakshmi, a forma de Deus simbolizando riqueza, os recursos, a fartura material e espiritual, nos dê não só saúde, força e fé; mas também condições e nos permita continuar aprendendo graças ao preço deste conhecimento que nos é tão caro.

Harih om :) Se quiser se aprofundar, este texto se relaciona à esse artigo de Vedanta.

Quando a dor do outro se estende à nós

O momento em que aos 18 anos decidi ir viver a minha vida como bem entendesse longe de tudo e de todos, me levou a uma ilha em que meus sonhos se realizariam e onde haveria espaço e tempo para praias, amigos, amores e liberdade. Assim fui e assim foi. Por um tempo. Qual surpresa não dei às minhas amigas após 2 anos e meio quando decidi me mudar para São Paulo e por lá ficar, ninguém compreendendo muito bem – nem mesmo eu – o porquê saí do paraíso, até entender hoje que tal conceito não existe absolutamente.

Na cidade que não para, vivi rápidos e intensos 8 anos, e em um momento de profundo cansaço e falta de sentido me vi sozinha e sem ânimo em continuar a viver naquele ritmo tão veloz, doentio e caro estudando e trabalhando muito, e você já pode imaginar – eu amo aquela cidade, mas me tornara uma paulistana infeliz neste último ano.

Ao saber que meu pai iniciaria um novo tratamento para hepatite C, senti um aperto no peito e no meio da madrugada na academia senti que deveria voltar para casa…após dez anos. A minha vontade era de estar perto para o que precisassem, ajudar com terapias que fossem confortantes e dar o meu amor e carinho.

Após somente 15 dias em casa, em janeiro de 2014, eu acordo com uma chamada de um desconhecido dizendo que meu pai havia sofrido um acidente de moto e que se encontrava em uma unidade de saúde em uma cidadezinha próxima a Ribeirão Preto, onde moramos. Seu estado era grave, porém não corria risco de vida. Os outros de casa estavam viajando e eu sem mesmo conhecer a área fui ao seu encontro. Uma carreta havia o mandado para bem longe em sua moto, na qual estava sem proteção nas roupas, e somente com um capacete aberto. Disseram que ele tivera sorte e que era uma chance de Deus, de fato!

Ele teve algumas costelas quebradas, as articulações se romperam e os ossos do ombro se moeram em várias partes, assim como os do cotovelo. O vi deitado na maca, muito ralado e inchado naquela precariedade que é uma UBS brasileira. Passou por várias cirurgias e sua recuperação foi lenta, dolorosa e difícil. Há sequelas e movimentos que não se concretizarão mais. Houveram momentos de muita tristeza, raiva e frustração perante esse trágico acidente. O pior ainda estaria por vir e no momento em que escrevo ainda não terminou. Esta foi uma etapa.

Desde seus 28 anos ele tem Hepatite C e já iniciou o tratamento com Interferon algumas vezes, porém este o levou a outras doenças neuropáticas, precisando ser interrompido. Ao buscar por um novo tratamento, iniciou-o no meio do ano passado com um medicamento muito forte que possui inúmeros efeitos colaterais entre eles febre, fraqueza, anemia, oscilações do humor, irritabilidade, depressão, diabetes, emagrecimento, perda do apetite, etc etc, mas que promovia a desejada cura.

Estamos a um mês de finalizar este processo e têm sido desgastante e impactante para todos aqui em casa. Há vezes em que não reconheço mais a pessoa alegre que ele costumava ser e brincalhona no modo de viver; sempre carinhoso e muito próximo, hoje prefere se isolar. Aconteceram inúmeras brigas e discussões entre nós, em sua maioria devido aos efeitos psíquicos que a droga causa e no próprio sofrimento e raiva que ele direciona a quem ama e ao estar passando pela pior fase de sua vida.

Desde criança, e mesmo adulta, sou muito apegada a ele. Somos parecidos em personalidade – ambos leoninos, alegres, belos e felizes por viver. Minha mãe conta que quando nasci, ele vendeu uma moto para pagar uma suíte no hospital à princesa dele que havia chegado. Hoje sinto uma tristeza que sei ser passageira, como toda emoção. Vejo que este sentimento se reflete em muitas áreas da minha vida, desde a busca por segurança, novos relacionamentos com os homens e abertura àquilo que é novo, como novos amigos e grupos. Sinto que uma parte de mim está doente junto e irá se fortalecer muito em breve.

Estou em uma nova cidade em que não é simples se adaptar aos lugares, pessoas, cultura e ritmo. Também vivo um momento de vida universitária que me preenche cada dia mais e me traz certeza de assertivos rumos, mas também me vejo ansiosa por não trabalhar tanto quanto gostaria e necessito, me encontrando em um momento muito introvertido e quase sem viajar por aí, coisa que sempre amei fazer .

Neste momento da minha vida sinto que estou muito sensível, mas nunca estive tão próxima de mim mesma. Por vezes choro sem motivo aparente, ou choro por todas as razões escancaradas dos que me rodeiam e daquilo que me toca.

Episódios assim mostram que somos tão frágeis quanto um motociclista batido por um caminhão nos ensinando que a vida às vezes é efêmera e pode ser mais curta do que queremos; e podemos ser tão fortes como uma borboleta que se rasga de um casulo rumo à verdadeira percepção da realidade da vida, a qual após a dor, descobre que pode ser mais leve e colorida ao abandonar a casca que a contrai e oprime.

O que surge de dentro dela, e do meu pai, sempre esteve lá, só aguardando o tempo e a oportunidade para amadurecer e crescer, encontrando forças internas em Si mesmos. Hoje me vejo junto a eles novamente e sei que o melhor lugar para estar é esse. Essa base tão firme, amável e coruja foi o que me permitiu voar, voltar e recuperar fôlego para novos futuros vôos.

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“Aqui onde a cor é clara
Agora que é tudo escuro

…Amor é tudo que move
O melhor lugar do mundo é aqui,
E agora”

Para saber mais sobre karmas e sofrimento.

Desilusão das ilusões.

7066b1729be6359bbbe0a89ecdbe1996Vou compartilhar com vocês, neste momento de descobertas sinceras e relatos necessários, um fato pessoal marcante e eu diria até que um divisor de águas em minha vida até então. Trata-se de um evento que abalou estruturas rígidas internas, que na verdade eram feitas de pó. Pode parecer um caso banal de coração partido, melodramático e sofrido. Afinal – quem nunca? Mas eu, nunca. Até meus 26 anos, vivi uma vida refletida principalmente por um prisma muito colorido e inocente de ser, bem Pollyana (como o livro). Já tinha tido muitos relacionamentos amorosos, muitos mesmo, e naquele momento estava feliz em um. Trabalhava em uma clínica de Ayurveda em São Paulo, continuava meus estudos nessa área que eu amava e vivia na metrópole ao lado de uma pessoa maravilhosa, em todos os aspectos loiros e azuis. Nossos planos de conhecer a mística Índia, turistar e estudar se concretizaram e no Natal de 2011 aterrissávamos em Pune para ficar por uns 4 meses e meio com direito a uma passadinha pelo Nepal e um Eurotour bem descolado. E assim foi, fantástica, com momentos bons em muitos dos lugares pelos quais percorremos; e outros mais tensos, mas belos igualmente. Havia valido a pena o árduo trabalho com tantos tratamentos, abhyangas, udwarthanas e shirodharas feitos que custearam tudo.

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Mas, sempre tem um ‘mas’, como a vida é essa caixinha de surpresas que abrimos, após dez dias de nossa volta dessa ‘lua-de-mel’ e convívio intenso, o cravo brigou com a rosa. E a rosa era muito dramática e sentimental (rs)! Pois bem, vou deixar a metáfora de lado. Demorou uns três dias para eu entender que não era um tempo e que era sim o fim de algo, o ‘pé na bunda’. Lembro-me que sentia algo rompendo dentro de mim que doía dentro do coração, no pulmão e na alma. Não é poesia, foram nas vísceras mesmo, quem sofre sabe; e eu nunca tinha sofrido assim, prazer em conhecê-la, Dor. Vieram raivas e choros, sensação de vazio e rejeição e o ego inflando e doendo em algo muito forte dizendo – você precisa aceitar e move on! Como vivíamos juntos, no trabalho e em casa, à noite e de dia, foi uma falta imensa que senti. Como se esta pessoa fosse algo grudado em mim, uma prótese de mente e corpo; e ele também sentiu isso, esse desapego foi necessário aos dois. Disse que precisava ficar sozinho, achava que não me amava como mulher, e sim como amiga, e veio aquele papo ‘furado’ mas verdadeiro e compreensível. Entendi através da razão e procurei permanecer forte, mas assim do nada e de repente, como me sentir melhor logo após essa ‘desilusão’? Eu era frágil, e percebi toda minha insegurança e tudo o que eu projetava na relação, algo que visivelmente não iria funcionar e nós ali, éramos como Um, algo doentio.

Após 1 semana, pedi pra sair da clínica deixando inclusive meu chefe bem espantado com tamanha impulsividade pois trabalhávamos juntos, e procurei novos espaços para atuar, visto também que não estava mais me sentindo realizada ali, independente do fato. Emagreci, essa parte até que foi boa, não tinha apetite pela vida e só sabia lamentar nesse primeiro momento. Procurando falhas em mim, nele, nos outros e no mundo e buscando em quê e em quem colocar a culpa. Não achei. A frustração aumentava. A minha necessidade naquele momento era de uma companhia, era de amor e de acolhimento; sentia uma carência muito grande e uma falta da minha família e do que me era familiar. Minha mãe detestou esta fase, tão triste e forte, da qual rimos hoje; pois eu ligava e chorava, às vezes não falava nada, como criança – e ainda tinha que ouvir meu pai dizer: É bom pra ela aprender! :)) Fui obrigada a trabalhar minhas emoções, com os amigos, inclusive um deles o yoga claro, pois não tinha condições para bancar uma boa terapia. O rapaz, para piorar minha sensação, após pouco tempo, havia arranjado outra companheira, o que aumentava ainda mais o meu sentimento de inferioridade, incapacidade de me amar e sustentar o que eu achava que ele queria e todas as fantasias imagináveis e inimagináveis que criamos em cima de nossa imagem e do que devemos ser.

Me fechei a princípio, depois me abri para novas pessoas e experiências que aos poucos foram me trazendo uma acomodação, uma maior confiança em mim mesma, uma maior compreensão dos meus medos, traumas e curando monstros que eu nunca tinha sequer notado por dentro e tão de pertinho. Juntamente, veio um sublime entendimento de que eu realmente era sozinha, e eu tinha que me resolver e me aceitar. E essa foi a lição, muito bem dada, mostrando que em nada controlamos os acontecimentos da vida. Se tratou em grande parte de um orgulho, que se desfez; de uma paixão e amor lindos que passaram; de momentos que hoje são lembranças e de amizades feitas que hoje são presentes.

Aquilo me transformou internamente, e senti logo após este rompimento uma força absurda que surgiu das minhas próprias convicções, um poder de libertação incrível e em um certo momento, tudo estava lindo e perfeito. Era isso, eu tinha que me conhecer mais, perceber as minhas fragilidades, minhas incapacidades, dificuldades de entrega, perceber as sombras que a ‘luz cega’ do outro por estar muito próxima não nos permite enxergar, olhar os sentimentos egoístas que não assumimos e a ignorância montada sob ignorância, de nós mesmos, e do outro, lógico. Não somos mais metades e sou mais forte. Hoje entendo quem me relata essa dor, que é subjetiva de cada um e me lembro da minha, que me ensinou com amor e tão arduamente.

Sinto que ainda persiste uma pequena semente deste sentimento já ressisgnificado, como um vestígio, não é algo que some do nada. Mas, também sempre tem um bom ‘mas’, senti genuinamente minha capacidade de seguir adiante “apesar de…”, sei reconhecer mais minhas fraquezas, conheci a tristeza que é querer e não poder e ainda assim estar tudo bem e pronta para viver o que vier e isso me levou inclusive a traçar um novo rumo para minha vida, ampliando minha área de atuação e seguindo serena.

Com a ajuda do Yoga e da meditação pude analisar melhor minhas emoções e mente e perceber que não sou elas. Elas passam, transtornadas às vezes como nesse sábio momento, mas eu permaneço, imutável e entregue. E juntamente com o Vedanta, nas outras relações que tive tudo também foi caminhando de forma mais suave para o final, feliz ou não, não importa.

Hoje é um amado amigo que não vejo muito e quando dizem – só o tempo, realmente entendi que é só o tempo. Passou, passado. O agradeço.
O sentimento é de gratidão às devis (deusas) do amor, da sabedoria, da cura e da morte; aprendizado na força do Eu, e a destreza em navegar em mares turbulentos, que antes calmos, eram superficiais e sem sal. Minha mente e emoções se fortaleceram com essa história de menina que hoje me transformam cada vez mais em mulher.

om sakti sakti sakti.

Este foi um texto escrito para um estudo de Vedanta – como o lindo relato deste amigo português que passou por uma situação parecida – o caso do querido João. Om.

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como o yoga e o vedanta entraram na minha vida

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Desde adolescente tenho curiosidade em conhecer e viver as práticas orientais e terapias naturais, sempre quis encontrar minha verdadeira natureza. As primeiras aulas de yoga se pareciam com alongamentos ousados fáceis junto com respirações, que ao fim traziam um relaxamento bom, seguido de cházinhos e uma professora carinhosa! Me sentia bem, gosto das coisas exóticas e lá a gente cantava o mantra Ommmm bem longo (: (E há 15 anos o yoga em uma cidade do interior não era tão conhecido). Após escutar este chamado por um natural ‘way of life’, fui estudar Naturologia em Floripa, e nas aulas de yoga de lá, a instrutora loira surfista, ressaltava – “é um yoga individual, vejo o que cada um precisa, analiso a postura, faço alinhamentos, é diferenciada e dou asanas diferentes para cada um bla bla”, ok. A experiência foi crescendo…E então ao me mudar para São Paulo e, perdida com X opções, frequentei outras aulas desde academias que uniam as modalidades com Pilates, até escolas de Iyengar Yoga, Astanga Vinyasa Yoga, Kundalini Yoga, Hatha Yoga; e na Índia nos cursos de Ayurveda, também haviam aulas mas sem nenhum ‘adjetivo’, porém, na verdade considerava-as monótonas e desestimulantes. Enfim, felizmente resolvi buscar um curso que me fizesse compreender a unidade final, ou começar a entender, o corpo do yoga, o que de verdade objetivavam todas aquelas diferentes práticas, o que eram os oitos ramos do Astanga Yoga, o famoso Patanjali. Me sentia em um labirinto oriental, como muitos, vendo só o aspecto físico das práticas, e estas mesmo se contradizendo ou se comparando; sendo que nem sempre eu sentia os benefícios de cada uma ou não encontrava minha mente mais saudável e calma, pelo contrário às x, mais distraída e em outras com muita energia e agitada, à noite! Por fim, neste curso de imersão (com Pedro Kupfer, se tiverem curiosidade) comecei a abrir minha mente e coração para além do corpo físico e da mente; e aí então começou pra mim a desmistificação do que é a coisa toda, veio o entendimento tradicional do que as escrituras diziam, seja pelos yogas sutras ou outras Upanishads (ensinamentos); e meu caminho simplesmente foi se traçando cada vez mais firme e nítido, com a ajuda de vários amigos que me indicavam passos.

Navegando, em meu feed do Facebook surgiu um curso de Vedanta grátis on-line. Acessei, e após me identificar com este conhecimento e com o professor, bem como com sua linguagem, entrei para a turma regular. Estudar Vedanta têm me ajudado no curso de Psicologia a ampliar minha visão e na minha vida – passei a adquirir uma firmeza interna muito verdadeira e real, eu diria até que libertadora em mim. É como se eu sempre tivesse buscado por esta sabedoria, sem saber. Está me trazendo mais segurança, compreensão e habilidade ao lidar com minha mente, com os meus relacionamentos, com as minhas emoções e com meus medos. O interessante é o método tradicional do ensino que vai te levando à natureza mais profunda, do Eu, sem utilizar discursos espirituais sem pé nem cabeça ou vazios, nem frases prontas ou de fé cega; alguns conceitos são quebrados, crenças e doutrinamentos sem base são discutidos e aniquilam-se quaisquer dúvidas do que vai se construindo internamente, na mente através de linhas de raciocínio, o que contribui para meu crescimento espiritual, mental, emocional etc. A primeira lição que entendi foi que: não se trata de um ‘me tornar’ uma pessoa diferente em um futuro distante – após ter feito profundas meditações, práticas de posturas difíceis, rituais secretos, ter zerado os desejos, ter me ‘iluminado’ – para então ser feliz, completa e livre, sem decepções, o que todos querem! Não, pelo contrário, é dito que – já somos o que procuramos, aqui e neste momento. Só lendo isso, parece repetitivo e nada demais, mas você já tentou viver de acordo com isso? Não é tão simples pois temos muitos traumas e condicionamentos. Mas nisto principalmente, o Vedanta têm sido essencial e eficaz, aprender a lidar com o mundo como ele é. São mudanças cognitivas, lógicas e objetivas que ensinam o que é preciso, destruindo a ignorância que existe, passo-a-passo, e o professor sabe como fazê-lo. Este estudo só acontece através de disciplinas, com o uso das ferramentas do yoga (desde cantos de mantra, puja, yogasana, meditação – por isso é preciso ter este preparo) e com o método guruparamparām – de transmissão viva das mensagens ensinadas de mestre à discípulo, há milhares de anos, apoiado nos Vedas (fonte do conhecimento da humanidade) ensinados com o coração de Swami Dayananda (mestre de Vedanta). Este estudo está me fazendo crescer e abrir os olhos para o real propósito da minha vida, desenvolvendo minha religiosidade – que é diferente de religião; e uma fé em Iśvara (Deus, em sânscrito; ou o nome que você quiser dar), me introduzindo na tradição. Só tenho a agradecer por ter entrado em contato com o yoga no passado, continuar praticando e conhecer o Vedanta no presente e poder continuar entusiasmada neste caminho de estudo looongo sim, que se iniciou com curiosidade, amor e devoção. Já não me encontro mais tão aflita e ansiosa como antes. E quando estou, sei melhor como lidar com as situações e emoções, já não busco ser algo diferente do que já sou. Embora recém-começado, têm me trazido paz, entendimento sincero, mais oração, confiança na ordem de tudo, contemplação, conexão com a natureza e simplicidade divinos; mas também uma maior sensibilidade e lutas internas difíceis. Sei que tenho muito o que melhorar e a história não termina assim tão cedo, por isso eu nem colocarei um ponto final :)))

oṁ śāntiḥ śāntiḥ śānti

Se quiser conhecer mais, acesse:

O encontro com Yoga e Vedanta

http://www.yoga.pro.br

Qual o papel das técnicas do Yoga?

76192b93dc34553320ab3704148566f6 (1) 2 Vivemos num tempo onde praticamente toda a informação sobre qualquer assunto está disponível na internet, bastando apenas que o internauta seja perspicaz e paciente o suficiente para garimpá-la.  Esta disponibilidade vem bem a calhar em certas situações, como, por exemplo, quando alguém precisa de uma receita rápida de bolo de chocolate. Contudo, esta mesma disponibilidade instantânea de informação torna-se um problema quando o assunto é yoga.

O yoga dispõe de inúmeras técnicas de exercícios físicos, respiratórios, meditativos e comportamentais que pretendem atenuar os obstáculos que impedem a vida de uma pessoa de se expressar mais plenamente. Basta que olhemos rapidamente qualquer manual de hatha-yoga ou mesmo pôsteres modernos  de asanas executados por alguém aparentemente sem ossos para que não nos reste dúvidas quanto à multiplicidade de coisas possíveis de serem feitas sob o nome de yoga.

As pessoas então olham para esta abundância de técnicas e imediatamente concluem que o avanço no yoga é o avanço no domínio de todas as técnicas. O raciocínio parece tão lógico quanto um mais um são dois, e no entanto ele está completamente equivocado. A ideia de que um yogin “avançado” deve fazer todos os asanas, todos os pranayamas, todos os “kriyas” e também as meditações é absurda, e é um dos grandes obstáculos que o yoga enfrenta na atualidade. Esta conclusão, quando somada à facilidade com que todas estas técnicas podem ser acessadas por qualquer um em textos, fotos e vídeos “explicativos” na internet, torna as coisas ainda piores.

Mas afinal por que o yoga apresenta tantas técnicas, se não são para serem progressivamente dominadas pelo yogin? A variedade de recursos desenvolvidos pelo yoga ao longo do tempo tem dois motivos principais: a variedade de pessoas e a variação da mesma pessoa ao longo do tempo.

Yoga é a capacidade de estar vivo para uma alguma realidade, sem que padrões mentais a encubram ou distorçam. Para isso, uma pessoa deve possuir uma mente clara, alerta e calma, paciente, capaz de uma análise objetiva de si mesma e do mundo. Todas as técnicas – quer sejam posturas físicas ou meditação – visam em última análise este tipo de mente. Acontece que aquilo que pacifica e anima uma pessoa pode perturbar a outra com igual eficiência. Isto não é bastante óbvio?

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Mande um jovem de vinte anos com a mente dispersa mas com boa disposição física fazer uma série de uma hora e meia de asanas que exijam sua habilidade física e concentração e é bem possível que ele se torne mais calmo e focado no final da prática. Peça para alguém de quarenta anos com a mente mais calma e focada mas com aversão a exercícios físicos executar as mesmas técnicas e no final da aula ele estará com raiva de você! Isto se ele não sair de lá machucado, o que é bem mais grave do que uma reação emocional pontual.

 Agora peça ao sujeito de quarenta anos que se sente e observe a respiração contando mentalmente o tempo de inalação e exalação – uma técnica frequentemente usada no yoga –  e é possível que ele aprofunde a qualidade do seu estado mental, ao passo que o jovem de vinte anos ficará frustrado e ansioso com a aplicação da mesmíssima técnica.

E será que este mesmo jovenzinho continuará colhendo os benefícios eternamente daquela mesma prática de asanas que no começo lhe servia?  A resposta é bem fácil: com certeza não. Porque ele mudará. Ele arranjará um emprego, se casará e terá três filhos, e não terá tempo para praticar asanas por uma hora e meia como gostaria de fazer. E, se insistir em praticar desta forma, ele terá uma série de desequilíbrios que superarão infinitamente qualquer beneficio que uma prática de asanas poderia dar. Ele terá que acordar às quatro e meia da manhã, ficará com sono, perderá rendimento no trabalho, brigará mais com a mulher, não terá tempo para os filhos que se tornarão distantes, e assim por diante.

É claro que ele precisa de uma nova prática que se encaixe com sua nova rotina e responsabilidades. Talvez dez minutos de pranayama duas vezes ao dia sejam o suficiente. Ou meia hora de meditação pela manhã? Talvez ele não precise executar técnica alguma, apenas focar na qualidade do seu trabalho e da vida familiar. Quem sabe o que ele deveria fazer?

O professor dele deve saber, ou ao menos ter alguma ideia, a ser discutida e testada com ele. Este é um ponto crucial. As técnicas do yoga não são para serem escolhidas pelo praticante como ele escolhe legumes numa feira livre, mas estão disponíveis para serem avaliadas e escolhidas pelo professor, que está fora da cabeça do praticante e livre dos seus pontos cegos, ao mesmo tempo que o conhece com intimidade.

Outra confusão muito frequente com relação às técnicas de yoga é a suposição de que uma técnica mais difícil ou complicada indica que o praticante que a realiza é mais avançado ou que está mais perto do objetivo final.  – “Sabe de nada, inocente”, diria um grande mestre. O objetivo do yoga é fazer você estar com você mesmo, ao invés de estar identificado com toda a complicação mental usual. Quanto mais complicada a ferramenta que você precisa para atingir este simples objetivo, mais incapacitado você é, não é mesmo?

Esse texto foi escrito por Luciano Giorgio no Satsangaonline.

Om!

combinações alimentares – antídotos naturais



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A dieta é parte essencial na saúde da vida de alguém. Para o Ayurveda, abrange uma complexa teoria que contempla os efeitos sobre os doshas, os seus seis sabores, os efeitos nos tecidos, no prana, as gunas (satwa, rajas e tamas), sua potência – fria ou quente, entre outros aspectos.

Entretanto, é dito – de acordo com os samhitas – que se você ingerir um alimento que não lhe faz bem, existe um outro que o amenizará e te aliviará, se usados concomitantemente. Desta forma, a natureza provê em toda sua variedade o próprio remédio, na medida do possível, à indigestão e outras dispepsias e desequilíbrios não só digestivos.  Portanto, eles devem ser ingeridos simultaneamente, prevenindo assim os possíveis males futuros.

A sabedoria popular e nosso senso comum, já prioriza essa combinação perfeita dos alimentos em nossa cultura de modo natural. Adicionemos o que não conhecíamos. Em sua maioria as especiarias dominam esses benefícios.

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Alguns alimentos e seus respectivos antídotos alimentares:

Abacate: melhor digeridos com limão, pimenta preta, cúrcuma.

Bananas: cozinhá-las, usar cardamomo, mel, canela.

Tomates: cominho, limão, açúcar.

Maçã: canela.

Cebola: cozinhar, usar assa-fétida.

couve-flor: gengibre.

Repolho: semente de mostarda, cozinhar com óleo de girassol, cúrcuma.

Chocolate, cafeína: cardamomo (na água para o fervimento).

Queijo: pimenta preta, chilli, caiena, malagueta.

Ghee: limão, coco assado.

Salada verde: suco de limão, óleo de oliva.

Batata: sementes de aipo.

Alho: óleo de oliva, suco de limão.

Pimenta: iogurte.

Ovos: cebola, cúrcuma, cilantro

Nozes, amêndoas: deixar de molho por uma noite.

Legumes: sementes de mostarda, cominho, coentro, pimenta preta.

Pipoca: ghee. – fica muito saborosa!

Pepino: (só) sal.

Sorvete: cravo, cardamomo.

Peixe: limão, lima, coco.

Carnes: cúrcuma, cravo, chilli.

Frituras: limão, cúrcuma, sementes de mostarda.

Açúcar: limão.

Leite: chá preto (chai por ex.), canela, cardamomo, pimenta preta.

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Desta forma, podemos aprimorar nossa dieta e saúde ao considerarmos objetivamente com consciência o que combina melhor entre os alimentos.

Harih om (;

Polly

Raw food – é ou não um bom alimento? Uma visão do Ayurveda.

É um tópico de grande discussão entre os yogis e buscadores da espiritualidade se devemos ou não aderir às comidas cruas ou raw foods com tanta voracidade no dia-a-dia.

Eu tenho visto muitos yogis durante minhas viagens espirituais pela Índia que vivem somente comendo frutas, raízes ou leite. Alguns deles têm bebido unicamente o chai como sua única fonte de alimento. Por outro lado, tenho visto yogis de algumas linhagens, comendo em excesso, ou alimentos muito ricos em nutrientes e cozidos mas que estão, obviamente, com sobrepeso e não possuem uma boa saúde física.

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Portanto, não existe uma regra de ouro que garanta que “yogis comem somente alimentos crus ou cozidos”! As tradicionais linhas de yoga (algumas que foram corrompidas e adotam diversas influências) têm variadas opiniões acerca deste tópico.

Para mim, a simples questão ‘este tipo ou aquele’ é permeada por injustiça se considerarmos a totalidade do tópico da discussão. Nós devemos entender as razões pelas quais comemos o que comemos, o motivo pelo qual cozinhamos o alimento, saber quando cozinhamos e por quanto tempo, quando optar pelos crus (raw food), quais os biotipos que necessitam de quais alimentos, as condições do clima e a estação que esta pessoa vive e assim por diante.

Ayurveda trata o hábito alimentar de forma diferente da ciência do yoga. As ciências do yoga almejam que o ser humano ascenda além do annamaya kosha (o corpo físico, material, nutrido por anna – alimento) e experiencie estados superiores de sua experiência última – ‘Kaivalya’. Assim, obviamente, o padrão alimentar muda de sua forma cozida e sólida para crus, com preferência maior às frutas e sucos, menor uso das especiarias e consideram uma guna em particular – são comidas sáttvicas. As considerações do Ayurveda serão principalmente baseadas nos seis rasas, sete dhatus, três doshas e três gunas, etc.

O cozimento dos alimentos é muito abordado em muitas ciências indianas e os reis, gurus (mestres) e esposas dos gurus têm adquirido grande habilidade em cozinhá-los. Bheem, do clássico Mahabharata,  desempenhou o papel de ballavacharya quando os pandavas estavam em exílio, tendo sido considerado o inventor da salada de frutas (referência: Durga Bhagvat).

A grande razão de cozinhar os alimentos é para livrá-los das bactérias, decompor as moléculas para fácil digestão, combinando e integrando os rasas para combinar vários ingredientes e nutrientes. Há grandes detalhes ao cozinhar alimentos no Ayurveda como: que tipo de madeira deve ser utilizada ou por quanto tempo o alimento deve ser cozido, (naquele tempo claro) tudo isso é mencionado com clareza. Por exemplo, para se fazer chyavanprash (uma geléia com propriedades de rejuvenescimento) é dito que deve ser cozido pelo do fogo da madeira da Indian Berry, ou jujuba, ou indiam plum (Ber em hindi – não encontrei tradução para esta planta, se alguém souber…).

O movimento dos alimentos crus (raw food) está crescendo cada vez mais. Muitos yogis do Ocidente se orgulham em transmitir seu estilo raw! Se a condição e habilidade digestiva de uma pessoa é boa, comer alimentos crus não é mau. As pessoas predominantemente Pitta podem aderir às raw foods. Mas, pessoas com Vata em predominância são constituídas por uma fraca e disfuncional capacidade digestiva quando em desequilíbrio e devem ter cuidado com este tipo de alimento.

O estilo de vida que uma pessoa leva é um fator importante para decidir o tipo de hábito alimentar que pode adotar. Para aqueles que levam um estilo de vida sedentário, raw food é bom. Na minha opinião, os professores de yoga que possuem muito atividade fisica, não devem ser dependentes somente destas fontes de alimento. Até os 40 anos podem não sentir nenhum desequilíbrio físico ou desconforto, mas mais tarde em sua vida podem ter que lidar com doenças sérias seja nas veias ou nos músculos.

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Buscar uma vida espiritual significa trazer equilíbrio e balanço à vida. Deste modo, o verdadeiro yogi não devem cair em discussões questionando se raw food é ou não um bom tipo de alimento, mas deve trazer este tipo de consciência baseado nestas questões que o Ayurveda propõe. O alimento, o contexto, o dosha…

Para aqueles que desejam se desintoxicar, raw food é um opção adequada por um período curto de tempo. Visto que na atualidade, os yogis se mantém ocupados viajando, com muitas tensões e estilo de vida estressante é bom optar por alimentos que ajudam o corpo a lidar com tudo isso, esporadicamente. Haja suco verde.

Nós já estamos derrubamos os parâmetros de saúde que impõe um ‘corpo magro’ e com ‘menos calorias’. Se deixarmos de considerar todo o conhecimento da cultura alimentar tradicional, estaremos de fato ‘matando’ a ciência que têm mantido a raça humana viva e que a leva em frente com força.

Na minha opinião, o alimento deve ser leve – light, e isto o levará a ser luz – light!

Amen!

Subham Bhavatu.

Texto escrito pelo querido amigo Rangi Arwind de Rishikesh, que me pediu para traduzi-lo.

Publicado originalmente em http://yogiarwind.blogspot.in/ .

Afinal o que é meditar?

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Em geral, quando começamos a praticar yoga, achamos que esta prática se resume às posturas físicas, porque é só isso que nos ensinam. Apenas com alguma sorte somos introduzidos à prática de meditação, que é apresentada de muitas formas: alguns ensinam que meditação é ficar com a mente vazia, outros que é acalmar a mente, e outros ainda não ensinam nada, e apenas largam o aluno à sua própria sorte, sentado no seu tapetinho no escuro dos seus olhos fechados.

 É preciso que saibamos o que é definido como meditação pela tradição Védica para que, na nossa prática de yoga, estejamos tranquilos e certos de que estamos de fato praticando esta disciplina e não alguma outra coisa qualquer.

A meditação é uma atividade estritamente mental. Esta descrição, apesar de verdadeira, não é contudo suficiente para definir a atividade meditativa, porque a distração, por exemplo, também é uma atividade estritamente mental.

A meditação é uma atividade estritamente mental, cujo fluxo está direcionado a um só assunto ou objeto. Ainda que esta seja uma melhor definição, ela ainda não é apropriada, pois a preocupação com algo também é uma atividade puramente mental cujo fluxo se direciona a um só objeto, e não estamos dispostos a incluir a preocupação no rol de atividades meditativas.

Vamos tentar de novo: a meditação é uma atividade estritamente mental, cujo fluxo está direcionado a um só assunto ou objeto, que é o Todo, Ishvara, contemplado sob algum aspecto.

Agora temos uma boa definição. Qualquer atividade mental cujo fluxo se direcione a algo que represente um ser maior do que nós mesmos e que nos abarque é meditação.

O objeto no qual se pensa, e não apenas a concentração do pensamento, define se uma atividade é ou não meditativa. Se você repetir mentalmente, “Coca-Cola”, ainda que sua mente possa absorver-se neste pensamento – tanto mais em um dia de verão carioca –  isto não será tradicionalmente considerado como meditação, simplesmente porque o objeto Coca-Cola dificilmente pode lhe comunicar algo de elevado e profundo, que torne sua vida mais significativa.

Muitas vezes fala-se da respiração profunda ou da observação da respiração como meditação, mas isto não é exatamente correto. Respirar profundamente ou apenas observar a respiração são técnicas que ajudam a mente a se acalmar, para que então você possa se concentrar no verdadeiro objeto de meditação. No entanto, se, ao respirar naturalmente e sem esforço, você pensar no ar que entra nos seus pulmões como um aspecto da inteligência universal que sustenta todos os viventes incluindo você mesmo, aí então sua atividade pode ser chamada corretamente de meditação.

O objeto de meditação deve ser algo capaz de conter em si várias camadas de sentido que se revelem gradualmente ao meditador, começando de uma mais grosseira e limitada até uma mais sutil e abrangente. As deidades hindus são neste sentido bem representativas. A figura do Deus Shiva, por exemplo, retrata um asceta de pescoço azul segurando um tridente, com os olhos tranquilos, semicerrados, absorto em meditação, sentado em uma paisagem refrescante e fria, com o rio Ganges caindo sobre sua cabeça.

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Mesmo o aspecto mais evidente e imediato desta figura já comunica à mente certas qualidades benéficas e úteis ao caminho espiritual. Mas, além destas informações mais imediatas e sensíveis, existem outras, inteligíveis, que podem se abrir ao meditador à medida em que ele avança na contemplação. Por exemplo, o pescoço azul remete ao céu, que é como se fosse o pescoço de Deus.  Sua cabeça é o espaço, além do céu azul, e seus milhares de olhos são as estrelas.

Nos mantras para Shiva, ele é chamado de “aquele que tem o cabelo verde”, simbolizando toda a vegetação sobre a terra. O tridente representa as três qualidades da natureza que governam o funcionamento de todas as coisas, vivas ou inertes. Os olhos semicerrados e em paz indicam o fato de que este criador, que é todas as coisas, está ao mesmo tempo desprendido de tudo, transcendendo tudo. Por fim, esta consciência que permeia e transcende tudo é reconhecida como a natureza do próprio meditador.

A meditação não é uma técnica oriental de acalmar pensamentos. Verdade seja dita, meditação não tem nada a ver com acalmar pensamentos (e muito menos eliminá-los, como tantas pessoas insistem em achar), ainda que uma mente tornada calma seja uma condição prévia indispensável para a atividade meditativa – e por isso existe o ashtanga-yoga, que indica asana e pranayama como passos iniciais.

A meditação é, isto sim, um relacionamento ativo com um objeto elevado, por meio do qual adquirimos certas qualidades positivas relacionadas àquele objeto, e por fim entendemos sua natureza última que é também a nossa própria natureza. Podemos meditar no Sol como um aspecto da inteligência universal que vivifica tudo porque possui toda a inteligência e luminosidade, e assim nos tornamos um pouco mais inteligentes e brilhantes. Com o intelecto afiado, entendemos que este “Sol” – aquilo que, brilhando, faz com que tudo o mais brilhe, apareça –  é de fato a consciência que eu mesmo sou.

O que se apresenta em todos os textos Védicos como meditação é algo relacionado ao conhecimento, em especial ao autoconhecimento. Não há realmente nenhuma base para que achemos que esta prática esteja desvinculada de um processo cognitivo, como quando pensamos na meditação como uma técnica de esvaziamento da mente.

Este texto sobre Vedanta foi escrito por Luciano Giorgio do Satsanga-Online.

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Aulas – Hatha Yoga

Olá queridxs,
Harih Om – saudação dos yogis!
Agora ofereço aulas de Hatha Yoga – uma prática milenar que dá importância às posturas psicofísicas (āsanas), aos exercícios respiratórios para expansão da força vital (prāṇāyāma), assim como às purificações (śatkarmas); incluindo práticas de meditação e outras que visam ao relaxamento.
O Yoga não combina com competição e nem superação, a não ser de si próprio. É uma forma de se conhecer melhor e se integrar saudavelmente com os outros e, mais importante, consigo. De maneira leve o yoga  fortifica e ilumina; e isso reflete em suas oscilações mentais, em suas ações, em sua vida e, consequentemente, no mundo em que vivemos e queremos que seja mais  amável.
A imensidão desse conhecimento está se multiplicando e sendo reconhecida cientificamente. E como cada vez mais e mais pessoas vivem o Yoga,  com o que (singelamente) venho aprendendo, quero compartilhar  a paz que pode ser descoberta.
Para praticar não é necessário muita coisa – somente vontade e desejo de trabalhar o corpo, acalmar a mente e elevar o espírito.
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As aulas acontecem às segundas, quartas, quintas e sextas às 19h; até então.
Máximo de 4 alunos por sala.
 
1 x por semana = R$ 140,00
2 x por semana = R$ 240,00
3 x por semana = R$ 310,00

Venha fazer uma aula experimental. 

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Om!
Polly Degan

Terapia Marma, massagem & aromaterapia ayurvédicas.

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ESTE TEXTO É UM POUCO LONGO, MAS BEM NECESSÁRIO E INTERESSANTE ACERCA DE PREMISSAS BÁSICAS DE TRATAMENTO. BOA LEITURA! :)

O sistema de cura do Ayurveda combina muitas variedades de cura para o corpo, a mente e o prāna (energia vital). É abrangente e integral alcançando nossas raízes físicas, psicológicas e espirituais, nos ligando a uma consciência maior. As terapias dividem-se em métodos de tratamentos de doenças (aplicadas em um ambiente clínico com procedimentos que erradicam o desequilíbrio dos elementos) e métodos de manutenção da saúde (enriquecendo a prática do estilo de vida e rotina saudável – Dinacharya e Ritucharya).

São utilizados óleos, ervas, massagens e alguns instrumentos para estimular os marmas que são centros importantes de confluência de energia. Os marmas são constituídos de 107 pontos distribuídos em partes identificáveis de nossa anatomia e refletem processos fisiológicos e psicológicos-chave que ocorrem dentro do organismo.

Os objetivos das terapias aplicadas aos marmas visam acalmar a mente, as emoções e reduzir o estresse e, especialmente aos yogis e yoginis que queiram expandir a consciência em um nível interior, é essencial.

Alguns métodos de tratamenro são a massagem abhyanga, a aromaterapia, a técnica mardana ou de acupressão e o toque prânico ou terapêutico.

A massagem abhyanga utiliza diversas formas de pressão e movimento com as mãos. Ela se torna mais eficaz acompanhada de óleo densos como o de gergelim ou de ervas ayurvédicas ou/e brasileiras equivalentes medicadas de modo especial. É uma terapia feita basicamente com óleos. Pode-se usar também pós secos, eventualmente.

Na aromaterapia aplica-se óleos aromáticos como o sândalo ou a cânfora sobre os marmas, realizando ou não a massagem.

A Mardana consiste em uma aplicação de pressão em marmas específicos combinadas à massagem e aos aromas.

Por fim, o tratamento prânico ocorre quando o prāna é direcionado pelo toque terapêutico.

O interessante é que elas podem ser auto-aplicáveis ou podem ser realizadas em um ambiente terapêutico e podemos uní-las em uma única terapia.

As aplicações de pastas de ervas também podem ser colocadas, como as de sândalo, açafrão e gergelim sob os marmas com fins terapêuticos ou tomados internamente em forma de chás (decocções) ou comprimidos prescritos por um terapeuta ou médico ayurvédico.

 

            Conheça melhor cada parte desta terapia

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            A Massagem dos marmas com óleos

O toque terapêutico é o principal método no tratamento dos marmas. É o poder sensorial que corresponde ao elemento ar cósmico, este relacionado ao prāna ou à força cósmica da vida. O prāna do praticante afeta o marma, centro prânico de nossa energia vital que é facilmente e constantemente atingida. O prāna em um nivel mais profundo carrega a energia do amor e da consciência, o que ajuda o toque a curar a mente e o coração.

A abhyanga é o principal método de tratamento dos marmas, como já dito. Os óleos e ervas adicionados ajudam a aumentar a energia de cura em todas as regiões do corpo. Esta poderosa técnica de oleação (snehana) combina o poder do toque terapêutico com as propriedades medicinais dos óleos, ervas e aromas. A massagem do corpo abre a energia marma de maneira geral e torna marmas individuais mais acessíveis para serem tratados.

Outra abordagem utilizada pode ser somente regional, massageando a área do corpo em que o marma específico se encontra, para depois se tratar o marma de maneira mais localizada e eficaz.

Os diversos métodos possuem indicações específicas de acordo com as constituições (doshas), estações do ano, condições ambientais, doenças (vyadhi), desequilíbrios (vikruti).

Os marmas são áreas sensíveis e requerem que os toquem com cuidado, sempre. Para massagear use o polegar, que protege a força prânica da mão; ou eventualmente use os ossos dos dedos das mãos, pulso, palma ou calcanhar do pé em marmas maiores. A massagem tem duração de três a cinco minutos em cada marma. O movimento no sentido horário fortalece os marmas e órgãos internos, e o movimento anti-horário é utilizado com o objetivo de desintoxicar, reduzir o excesso de doshas ou o crescimento excessivo de tecidos.

A massagem exige o uso de óleos pesados como o gergelim (sésamo) ou de amêndoa. As qualidades emolientes e oleosas reduzem a fricção e suavizam a pele, tornando-se uma experiência agradável. Os óleos penetram nos marmas, aliviam tensões e dores e proporcionam nutrição para pele e músculos.

Esta terapia com óleos ou snehana usa os óleos para fortalecer o paciente ou remover toxinas, dependendo do óleo e quantidade aplicados.

  • Óleo de gergelim e amêndoa: natureza de aquecimento, geralmente usada para o Vata (predomínio de éter e ar), em grandes quantidades.
  • Leves e picantes: bons para o Kapha (predomínio da água e terra), como mostarda, girassol ou açafrão ou gergelim – em pequenas quantidades.
  • Natureza de resfriamento, melhores para Pitta: óleo de coco, ghee (manteiga clarificada) e óleo de girassol.

Obs.: vale ressaltar que em casos de ama (toxinas no aparelho digestivo evidenciadas na língua), resfriados, gripes ou febre e condições agudas, não deve ser realizad a abhyanga ou a quantidade de óleo deve ser mínima; pois eles suprimem o agni (fogo da digestão) e seguram as toxinas e agentes patogênicos no corpo.

Óleos e doshas:

            Vata: sésamo (gergelim), oliva, ghee e amêndoa.

Pitta: coco, girassol, açafrão e ghee.

Kapha: mostarda, açafrão, damasco, girassol e gergelim (pouco).

Óleos medicados especiais feitos na Índia são os chamados thailas (de tila = gergelim). Eles têm por base os óleos de coco ou gergelim, nos quais são misturadas ervas medicinais como sândalo, cânfora, aswagandha, bala, shatavari, brahmi, gotu kola (plantas indianas). No Brasil pode-se utilizar as plantas medicinais correspondentes, algumas como malva branca, arnica, mamona, açariçoba, calêndula, camomila, barbatimão, eucalipto, alecrim, erva-de-bicho, artemísia e tantas outras, levando-se em conta qual o objetivoque se queira do óleo: antiinflamatório, nervino, calmante, esfriante, relaxante, tonificante. As propriedades das ervas penetram no óleo e aumentam seu efeito. O modo de preparo simples indiano encontra-se no final da matéria, ha outros mais complexos. Os thailas são a melhor forma de tratar os marmas pois combinam óleos de massagem e ervas para uma ação sinérgica mais poderosa.

Pela aromaterapia, os óleos aromáticos têm efeitos potentes nos marmas, pois irradiam a influência para diferentes canais, órgãos e sistemas do corpo e da mente. Os aromas podem penetrar profundamente nos marmas e ajustar seu nível de energia e frequência. Eles reduzem os doshas em excesso e provoca as energias sutis de cura do prāna (vitalidade), tejas (radiação primária) e ojas (imunidade).

Esta é uma técnica fácil e rápida de trabalhar, feita separadamente ou como parte da massagem. Um óleo aromático pode ser aplicado antes da massagem com o intuito de abrir a energia do ponto, ou pode-se espalhá-lo após a massagem para vedar o local tratado.

O procedimento é rápido e instântaneo, bons para condições graves em que a pessoa não tem tempo para um tratamento mais longo. Pode-se usar óleos aromáticos (já prontos para aplicar) ou óleos essenciais (deve ser diluído em um óleo-base: já citados, ex: semente-de-uva). Alguns: os refrescantes como sândalo para aliviar dores, inflamações ou irritação local; outros para aquecer e estimular como a canela ou eucalipto e para o combate do frio e rigidez ou estimular a circulação; ou bálsamo para dores como o bálsamo-de-tigre vermelho (tiger balm – produto da medicina chinesa) que contém principalmente cânfora, mentol ou a gaultéria.

O ideal é massagear a região do marma de forma leve, levando em conta a orientação anterior acerca dos movimentos horário/anti-horário.

Os tipos de óleos aromáticos mais comuns são os picantes. São aquecedores e ótimos para reduzir Kapha e Vata. Os típicos são anis, manjericão, louro, cálamo, eucalipto, gengibre, hena, nos-moscada, pimenta, salva e tomilho. Os óleos de árvores coníferas em sua maioria, também o são: cedro, pinheiro, zimbro, pinho e abeto. Alguns óleos picantes são bons pra Pitta também como a cânfora, canela, cardamomo, cravo-da-índia, coentro, cominho, erva-doce, menta, agripalma, alecrim, açafrão, hortelã, açafrão-da-índia e gaultéria.

Outro tipo importante são os óleos ‘doces’, geralmente derivados de flores. Reduzem Pitta e Vata e podem aumentar Kapha. Úteis para complicações ginecológicas e agem como tônicos para o coração e sistema reprodutivo. Alguns: orquídeas, prímula-da-noite, frangipana, gardênia, madressilva, íris, jasmim, lírio, lótus, rosas e açafrão.

Alguns óleos naturais são sulfúreos em seu perfume sendo bons para o Vata e para estabilizar a consciência em condições de choque ou histeria. Alguns: alho, cebola, valeriana, jatamansi e assa-fétida (hing).

Várias combinações podem ser feitas entre ervas e óleos, aumentando seu poder e criando uma sinergia com as substâncias de cura. Fica ao seu critério.

A massagem ayurvédica é parte da terapia de desintoxicações e/ou redução (shodhana) usada para liberar toxinas nos ossos, juntas, músculos e pele e, também é parte das terapias de calor ou sudação (swedhana) com o objetivo de retirar as toxinas por meio do sangue e da pele. Mais comumente o snehana (oleação) e swedhana são usados em conjunto para a retirada do dosha por meio de métodos mais complexos terapêuticos como o panchakarma.

Deste modo, a massoterapia com óleos e aromaterapia sobre os pontos marmas são vistas como uma terapia especial ou localizada muito eficaz para problemas de dores de cabeça e sinusite, remover toxinas da região do prāna e a harmonizar seu movimento na mente e no sistema nervoso.

O uso de óleos densos como gergelim e amêndoas atuam tonificando o organismo (brimhana) e é indicado para condições de falta de peso corporal, baixo desenvolvimento de tecidos e Vata elevado. Deve ser complementado com aplicação de óleos em grande quantidade em marmas específicos e uma massagem no corpo todo. Gotas de óleo em várias regiões marma como no meio da testa (shirodhara) também pode ser útil. Enemas (bastis) com óleo de gergelim e infusão (chá) de erva-doce por exemplo são poderosos também por atuarem diretamente no local de agravação do dosha Vata (cólon).

Os condimentos e óleos aromáticos picantes fazem parte de outro tipo de terapia – a de redução (langhana) indicada para condições de excesso de peso, Kapha elevado e ama. É parte da terapia shamana que objetiva aumentar o poder digestivo (ou agni) para queimar toxinas. Ajuda na redução de peso, estimula a digestão e desintoxica ao utilizar os marmas adequados.

  1. Mardana (acupressão)

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É a aplicação de pressão sobre os marmas, especialmente os menores, onde a energia está concentrada em desequílibrio. A pressão é feita com os dedos médio e indicador, principalmente e é usada nos marmas da cabeça ou dos membros (braços e pernas). Ela é aplicada em pontos doloridos ou sensíveis (a menos que estejam feridos) até que a dor e a tensão sejam liberadas. Pode-se usar o polegar e os cotovelos em marmas maiores.

Método:

  • Encontre a região marma respectiva, aplique uma pressão constante e moderada, começando de forma lenta e gentil e aos poucos vá aumentando a força. Use um movimento circular no sentido horário para fortalecer/tonificar os órgãos e tecidos internos. E o sentido circular anti-horário para reduzir doshas ou tecidos em excesso.
  • Continue a aplicar a pressão por três a cinco minutos, até que diminua a dor. Massageie suavemente a área para dispersar qualquer tensão.

As mesmas orientações quanto ao óleo e aromas são indicadas aqui, salientando que os tipos Vata são beneficiados com óleos aromáticos de cálamo ou canela; Pitta os de sândalo ou cravo-da-índia e Kapha os estimulantes como a cânfora, a canela e o eucalipto. Pode-se utilizar a massagem completa conjuntamente à acupressão.

  1. A cura prânica (também chamada de Prana Chikitsa)

Consiste em nada menos do que usar seu próprio prāna sobre o ponto marma de quem recebe a terapia. Em zonas marmas maiores como o coração ou o umbigo a pessoa pode simplesmente colocar a palma das mãos acima do marma ou a alguns centímetros com o objetivo de trazer a energia prânica positiva e dispersar a energia prânica negativa, ou tocar o marma e transmitir pelo toque o prāna.

O melhor também é direcionar o prāna junto à sua respiração, projetando uma vitalidade positiva junto à sua inalação e retirando a energia negativa junto à sua exalação. Ela pode ser potencializada com o uso de mantras, métodos de pratyahara (um dos 8 ramos yoguicos), cores, pedras e, naturalmente, o fluxo positivo do prāna do terapeuta à pessoa.

            Como fazer um óleo medicado, de maneira simples:

Escolha as ervas medicinais com as quais quer medicar o óleo (pode ser mais de uma), escolha o óleo-base (pode ser de gergelim, coco, semente de uva, oliva, amêndoas, ambos de origem vegetal, orgânico se possível).

Faça uma decocção (ferver as plantas com água) na proporção de 1:16 partes de erva e água, respectivamente, reduzindo-a à quarta parte, ou seja, se ferver 1 litro de água e colocar o equivalente a 1/16 da planta in natura ou seca (se for seca, em maior quantidade), deixe a mistura reduzir até 250ml da decocção. Após coar, misture o mesmo volume de óleo ou ghee, fervendo até reduzir à metade, o qual irá evaporar toda a água. Assim você terá um óleo medicado feito em casa.

Para um maior e essencial conhecimento da localização, função, sintomas e tratamento de cada marma verifique o livro de Dr. Avinash Lele, Dr. David Frawley e Dr. Subhash Ranade: Ayurveda e a Terapia Marma: pontos de energia no tratamento por meio da ioga. (dica de livro).

 

Por: Pollyana Degan

Fontes: LELE, Avinash et al. Ayurveda e a Terapia Marma: pontos de energia no tratamento por meio da ioga. 2 ed. São Paulo: Madras, 2009, p. 63-95.

D’ÂNGELO, Edson; CÔrtes, Janner Rangel. Ayurveda: A Ciência da Longa Vida. São Paulo: Madras, 2008.

Cuidados faciais simples e rápidos ;)

IMG_5780A beleza no Ayurveda (sem salão de beleza…)

A beleza e saúde interna reflete a beleza externa de uma pessoa. Como venho sempre salientando, para o Ayurveda há diferentes proporções de cada dosha no organismo e estes se refletem no corpo, nos desequilíbrios, no temperamento, no comportamento. ..E também na pele do rosto. De acordo com o que se come, com o que se respira, se vive e se pensa há problemas que se manisfestam na saúde da pele. A poluição, a alimentação rica em pesticida e hormônio, fast foods, alimentos gordos e oleosos..ajudam a piorar o aspecto e a vivacidade. Outras questões não muito enfatizadas são os sabonetes fortes e com componentes químicos, os cremes que não permitem que a pele libere o calor necessário à noite, água quente, depilação imprópria, alterações hormonais, tratamentos pesados à pele com alto aquecimento, ácidos e outras substâncias e estresse.

Os tipos Vata possuem uma pele mais frágil, fina, com pintinhas escuras, rugosa, descamada, um rosto oval, sem suor, olheiras, pouca eliminação de toxinas e expressões que podem revelar medo ou preocupação. Seus problemas mais comuns estão ligados a uma alimentação e estilo de vida que agravem a natureza Vata, que é predominantemente ar e éter, como alimentos secos, vida indisciplinada e apressada, falta de relaxamento, climas frios etc. assim os problemas que acarretam à pele são maior secura, rachadura e pêlos encravados, normalmente devido à depilação.

O Pitta tem a coloração da pele mais avermelhada, corada, com propensão à acnes, inflamações, até infecções, rugas precoces, verrugas, pintas vermelhas, oleosidade na zona T, cravinhos e maior sudorese. A alimentação apimentada e outros fatores podem levá-lo a piorar um quadro de irritação, assim como sua expressão mais comum pode estar ligada à raiva, frustração evidenciados na cara. Um rosto deste é mais quadrado.

Para o calmo e pacífico Kapha, a pele é caracterizada por uma maciez, tepidez, um pouco gélida, oleosa levemente, uma coloração branquinha, untuosa, com poros grandes. Pode ter inchaços, cravinhos, muco acumulado e a emoção que se nota em desarmonia é a tristeza e melancolia. A profunda natureza é agravada com alimentos doces, pesados e oleosos ou atitudes passivas frente à estímulos que exigem sua enérgica ação. Seu rosto tende a ser mais arredondado.

Este tratamento facial ayurvédico completo consiste em 8 passos, os quais são muito simples, porém algumas substâncias não são encontradas no Brasil, somente na India, mas podem ser facilmente substituídas. As etapas são de limpeza, oleação (com massagem), vaporização com ervas ou compressas, esfoliação, máscara facial com argila, máscara facial nutritiva, tônico e umidificador. Por ser um tratamento longo que exige tempo e muitas substâncias, assim como outra pessoa para aplicá-la em você, apresento aqui algumas opções de limpeza, máscara e tônicos faciais. Para quem houver o interesse dele completo, me escreva que compartilho.

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Antes de tudo, a limpeza.

Se tem uma pele normal, limpe o rosto com um chá fraco de açafrão (antisséptico e anti bactericida). Para Vata: misture açafrão com leite ou leite de coco; Pitta: açafrão com iogurte ou água de rosas e Kapha: açafrão com suco de limão ou mel. Outra erva para substituição: neem (para problemas de pele). Aplique com algodão.

Máscara :

argila,

pó de amêndoa,

clara de ovo,

leite (V) ou água de rosa (P) ou iogurte ou mel com suco de limão (K).

pós de vetiver ou sarsaparrilha ou neem ou manjericão ou milho (ou todos),

Pó de cevada ou grão de bico ou mung dhal (feijão moyashi).

Faça um mix das ervas que escolheu na proporção de colheres de 4:1 com a clara de ovo. O veículo escolhido (leite, iogurte ou água de rosas) dá a liga certa. Deixe de 10 a 20 minutos e retire com água morna. É útil para retirar as toxinas das camadas mais profundas da pele; remover os pontinhos pretos e brancos de cravos, espinhas e ajudar a clarear os poros; ajudar a remover cicatrizes e melhorar a cor e compleição da pele; como também nutrir e rejuvenescer os tecidos por estimular a pele.

ps. Na Índia, eles usam pós de sândalo branco e vermelho, ashwagandha, amla e triphala. Se houver, abuse. São perfeitas e antioxidantes! Pode acrescentar óleos essenciais também de camomila, lavanda, rosas, hortelã.

Facial Pack – máscaras mais suaves e gentis. Usa-se pepino batido (para todos os tipos); pele seca: banana, papaya ou abacate; e pele oleosa: limão, tomate, uva ou repolho – uma explosão de cheiros e sabores! Ela age como tônico e refreshing. Retire com água fresca.

Aproveite o final de semana para cuidar de sua beleza externa, descubra o seu tipo de pele, pondere a alimentação e hábitos e assim o resultado refletirá em sua alma também. Enjoy!

Espero que tenham saboreado!

Om.

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Fonte: aulas na School of Ayurveda & Panchakarma – http://www.ayurvedacollege.net.